
A mais singela e bonita declaração não vem através de palavras. As palavras são cruéis, frias e calculistas. Não passam de umas tremendas filhas da mãe. Parou para pensar o quanto essas desgraçadas palavras são medonhas? Por incrível que pareça elas não são as mesmas desde o seu nascimento. São volúveis, isso, totalmente influenciáveis. A cada boca por onde passeiam se tornam outras palavras. Inacreditável a configuração que uma palavra tão bela possa tomar. Como uma das mais lindas: “Morena”. Outro dia escuto exatamente assim: “Oh, morena te dô um trato bunito”. Oh meu rapaz, que infelicidade a sua ao construir uma frase extremamente rudimentar. Palavra tão doce como Mo-re-na. Balbucie, vai. MO-RE-NA! Sinta a palavra. Saboreie o texto. Porque não sei qual forma sua boca se transformará repetindo infame tragédia. Tolo. Estúpido. Retardo! Imbecíl, doente de imbecilidade!!! Filho da ...neste exato momento calo todas as palavras existentes. Não quero proferir indignamente palavras poéticas no meu estado alterado. Traiçoeiras palavras se voltam contra o seu próprio criador? Não posso conceder a vocês o que vim propor aqui. Um pouco d’água, por favor. Ao som de “Fênix” (...) Incenso (...). Melhor (...). Inspira e expira (...). Pronto agora estou bem melhor, sereno e tranqüilo (...). Vocês não são merecedoras, decentes e muito menos nobres o suficiente para participar do grandioso evento: A declaração a mais pura palavra, MORENA. Tal declaração é feita por sentimentos. Sentimentos jamais vividos por outros seres. Ela é feita por imagens. Imagens criadas através de nossos corpos unificados; Registradas por belíssimas fotografias guardadas eternamente em nossas memórias. E por último, feita por momentos. Momentos intensamente delicados, deliciados e compreendidos apenas por... Nós dois.
P.s: "Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?"
( Fernando Pessoa)
Ph Azevedo